O conceito de mídias alternativas surgiu como uma expressão marginal dentro da esfera dos meios de comunicação de massa há quatro décadas. Inicialmente usado para designar toda plataforma de comunicação popularesca, descentralizada e sem recursos, muito longe do grande panteão da mídia – Rádio, jornais, TV – o termo foi se expandindo a cada novos instrumentos que surgiam.
Se há pouco tempo atrás o carro de som, o fanzine, o Outdoor, a arte de rua e até mesmo a lista telefônica eram os meios por quais se comunicavam alternativamente, a consolidação da rede mundial de computadores gerou um panorama diferente. O imediatismo e a interatividade aliados a uma rica fonte de informações fez da internet o zênite das mídias alternativas: blogs, redes sociais, compartilhadores e dispositivos de troca de mensagens se configuraram como instrumentos poderosos que ameaçam a estabilidade da mídia convencional.
Há quem diga que o modelo tradicional de jornalismo esteja com os dias contados. As redações e linhas editoriais darão espaço para o Jornalismo 2.0, feito de forma coletiva e colaborativa através da rede. A TV digital e suas camadas de informação – em tese – podem fomentar a construção de conteúdo de forma colaborativa, onde consumidores também desempenhariam o papel de produtores.
Mas enquanto essas promessas não se tornam realidade, as mídias alternativas vão ganhando força dentro da rede. Dentre os fenômenos recentes, o Wikileaks (http://wikileaks.org/) conseguiu deflagrar documentos com segredos militares e manobras escusas de vários governos, incluindo ai informações ultra-secretas do Pentágono. Para esse expediente, a coletividade foi fundamental para as investigações, inaugurando um estilo derivado do croundsourcing (http://www.observatoriodaimprensa.com.br/blogs.asp?id_blog=2&id={FCB7391B-3ACA-4E58-A4B7-A872631435F0}). Outro sucesso recente é a rede Avaaz (http://www.avaaz.org/po/), uma comunidade virtual que organiza e articula campanhas a favor dos interesses da sociedade civil como forma de pressionar autoridades e possui larga adesão ao redor do globo. Aqui no Brasil, esse modelo de mídia alternativa é representado pelo Centro de Mídia independente (http://www.midiaindependente.org/) que publica diariamente dezenas de artigos colaborativos sobre os mais variados assuntos sempre voltados para demandas sociais eminentes.
A liberdade e o pluralismo da rede são elementos chaves para o progresso dessas mídias alternativas, mas é necessário que o interesse coletivo não seja sobrepujado por interesses individuais: o mal que assola a mídia tradicional. É necessário também expandir o acesso a rede, algo que ainda caminha a passos lentos. Em um futuro próximo poderemos presenciar uma transição comunicativa tão grande quanto a que Marshall Macluhan descreve em “Galáxia de Gutenberg”, quando o surgimento da imprensa revolucionou o modo como as informações passaram a ser difundidas e compartilhadas no mundo e as conseqüências sócio-culturais dessa transformação. A boa notícia é que as primeiras fichas em direção a democratização da informação já foram lançadas e as mídias alternativas são um dos principais sintomas disso.
Por Emanuel Diniz